Os meus ‘‘dias cinzas’’ meio que passaram há algumas semanas e o que acontece depois é sempre uma incógnita para mim. Pois confesso que quando eles vem, gosto da criatividade melancólica que trazem. Me sinto mais reflexiva e introspectiva, o que me leva a me expressar mais na escrita (ajudando a processar o que estou sentindo), criar cenas na cabeça (não necessariamente minhas ou comigo como ‘‘protagonista’’) e que vão se desenrolando e me sinto em contato com uma parte de mim que admiro.
Quando eles passam a vida ganha outro tipo de luz. Me sinto mais disposta a desengavetar coisas que deixei paradinhas ali nos dias cinzas e tenho uma enorme vontade de fazer tudo no mesmo lugar ao mesmo tempo (com licença, A24) e o que faço? Nada. Tal e qual mariposa atraída por uma luz forte e inebriante, fico afogada (ou afobada?) por essa vontade absurda de tudo que me perco um pouco dos trilhos do foco e é aí que percebo que deixo a escrita e tantas outras ‘‘habilidades’’ que tanto amo e que são tão parte de mim, de lado; dessa vez são elas ficam engavetadas e esse texto é quase uma linha de conexão entre os meus ‘‘cinzas’’ e ‘‘ensolarados’’.
Comecei a escrever o título sem pensar nada disso acima e *tapinha nas costas* ter mantido esse foco por algumas linhas, mesmo sacodindo a perna sem parar, já considero uma vitória! Mas meu intuito aqui foi partilhar um dos «desafios» que me proponho quando estou nos cinzas que é: reparar as coisas boas de cada dia. Eu sei… você rolou os olhos quando leu e soa completamente clichê, mas eu juro: é simples, demanda um mínimo esforço e me ajudou/ajuda! E ai pensei: por que quando estou nos ensolarados eu deixo de fazer o mesmo só por que, de um modo geral, estou me sentindo melhor comigo mesma? E foi a partir desse pensamento que decidi vir aqui e compartilhar um dos momentos que me veio à cabeça, que são raros de acontecer, são bonitos, sou grata por eles e se você não prestar atenção nas entrelinhas da vida, passam batidos.
«Sábado acordei de manhã bem cedinho para fazer exame de sangue - que queria fugir a todo custo - e minha mãe foi me acompanhar. Não vou nem ficar aqui falando o quanto sou contra a esse exame evasivo e como é um absurdo não descobrirem outra forma mais eficaz de dar um check na saúde (tudo isso sou eu dizendo-sem-dizer que tenho medo de tirar sangue), maaaaas fomos juntas e 8/10 tubos depois, aproveitamos que estávamos na rua, que estava um dia lindo de sol e ficamos batendo perna e jogando papos aleatórios fora. A manhã passou, chegamos em casa e fomos fazer nossas funções domésticas, pós almoço nos sentamos juntas na sala vimos comédia-romantica adolescente (Com Carinho, Kitty) e lá por volta das 17h paramos, fomos ler (cada uma o seu livro) escutando minha playlist de música brasileira. Em certas músicas - que eu relaciono a certas (boas) memórias afetivas (e vi que ela também) - parávamos e cantávamos a plenos pulmões, fazíamos microfone com as mãos ou controle da TV e ríamos quando desafinávamos e/ou errávamos a letra.
Um ‘‘tender moment’’ de mãe e filha, fofo… você diria para mim, mas leve em consideração que normalmente somos luas que orbitam planetas diferentes e esses momentos são raríssimos de presenciar! E além de toda essa atmosfera de conjunção astrológica rara, ver as semelhanças de coisas boas (e um espelhamento mútuo talvez) em certos maneirismos, gestos de interpretação enquanto cantávamos ‘‘Samurai’’ ou ‘‘Voz no ouvido’’, afrouxa um pouco o nozinho do medo de ‘‘me tornar a minha mãe’’, no sentido pejorativo da expressão. Vi que somos similares em aspectos bons também e você nem imagina o quão significativo isso é na forma de enxergá-la e de me enxergar.»
O texto de hoje ficou um pouquinho mais longo que os que já postei aqui, mas era tudo que eu queria precisava falar. Obrigada por ler ouvir! <3